Aquele “enjoado” barulho dos mais de 400 adolescentes da Comunidade
Escolar, reunida na Quadra Poliesportiva, não parou um instante enquanto
falavam as ‘Autoridades’ (Capitão, Delegado de Polícia, Coordenador do Projeto,
Promotor de Justiça, Representantes disso e daquilo, etc.). Mas quando o
primeiro dos presidiários, com voz rouca e com a fala simples e direta da
linguagem popular, tomou a palavra pedindo publicamente perdão por não ter
atendido a voz da mãe e dos parentes dele quando era mais novo atendendo, em
seu lugar, o convite do amigo para tomar a primeira cerveja, fumar o primeiro
cigarro, experimentar uma dose de cachaça, fumar maconha e cheirar cocaína, aí...
todo mundo parou e fixou o olhar naquele
jovem ‘presidiário’, que estava dando lições de vida a partir dos seus erros
juvenis.
“Hoje
estou aqui pedindo o respeito de vocês!... A escola ‘lá’ [o presídio] é a pior
escola que já tive!... Já fui aluno e não soube aproveitar a educação da
escola!... Tenho dois anos que não vejo nenhum dos meus parentes! A gente não
conta com nenhum deles. Não tenho nenhuma notícia deles, nem de saúde nem de
doença, não sei se estão bem nem se alguém morreu... Me sinto só numa cela do
tamanho de um quarto, que hospeda 15 homens!... Espero que todos Vocês aprendam
um pouco também de minha vida para viver sua vida de liberdade!... Hoje em dia
estou feliz por estar tentando recuperar a liberdade.”
Várias escolas não aceitaram o projeto educativo “Conquistando a
Liberdade” nem a visita dos ‘presidiários’. Desprezo ou preconceito? Falta de
tempo ou medo?...
Os alunos da Benvinda adoraram este encontro: a maioria ficou até
o fim, fortemente emocionados e comentando a fragilidade entre o bem e o mal,
entre a liberdade e a reclusão, entre o direito de ser dono do próprio nariz e
o seu abuso.
Os Professores sentiram na pele a importância e a qualidade
‘educativa’ da experiência ‘de quem ensina humildemente a partir de seus erros’.
Acostumados a trabalhar o fator
educacional como uma proposta sistemática de valores éticos e cognitivos, eles perceberam
que os depoimentos de vida, fortemente emotivos, e a consciência de erro dos
jovens presidiários contribuíram para ‘levantar poeira e provocar um choque de
responsabilidade’ em relação à vida familiar, escolar e social.
A prisão é um lugar de ‘exceção’ que deixa traumas, dos quais o
‘presidiário’ dificilmente consegue se libertar completamente, apesar da ajuda
do processo de ressocialização pelo trabalho, estudo ou a religião. Amanhã, a
vida da escola vai continuar aparentemente a mesma, mas com certeza os alunos
aprenderam que “o ser humano foi criado por Deus para dar certo - como falou o
Capitão Mello - não para ser excluso da vida familiar e social”.
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